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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Escrito na véspera

Publiquei esse texto no Diário do Ganso, um dia antes da peça estrear. Reproduzo o texto aqui, a convite do Djair. Aos poucos vou colocando outras coisas que já escrevi a respeito da Cia dos Gansos. Inclusive a nossa biografia completa. Aguardem.

Léo Cortez

Rei dos Urubus, na véspera
Minha nova peça é um pouporri das minhas angústias. Tá tudo lá, meu amigo: a agonia diante do mundo opressor coorporativo, a solidão do lider, o desamparo da juventude, a crise diante do humor vazio e vaidoso, a minha birra contra quem faz documentário oportunista e etc. Tá tudo lá. De novo, sem floreio, com aquela verborragia de sempre, sem muita poesia que eu não levo jeito pra coisa. Mas tudo muito pensado, muito analizado, muito discutido comigo mesmo. Uma jornalista assistiu o ensaio e disse que as reuniões de pauta não são como as reuniões retratadas na peça, que a televisão não é daquele jeito e que as pessoas não são assim. Pois eu digo: o meu esforço como dramaturgo é transcender a vida real, buscando, nesse amontoado de situações-limite, conseguir retratar o sofrimento humano de maneira quase alegórica e pretensamente atemporal. Não se trata de uma peça sobre a televisão, ou sobre a baixaria da televisão. É uma peça sobre o ser humano desesperado, escravo das suas fraquezas, submetido a uma estrura de trabalho desumana, que prioriza o lucro e a produtividade em detrimento das relações e dos valores morais e éticos. E pretendi falar sobre tudo isso com humor, porque o humor é decorrencia tragicômica da mesquinharia que cerca e rege o comportamento desses personagens. Estamos em vésperas de estréia. Ensaiamos com muita raça e responsabilidade. Temos , dentro do grupo, esse discurso comum, conquistado após muita reflexão sobre o trabalho. Eu posso dizer categoricamente , que é um trabalho honesto. Eu posso dizer, categoricamente, que sei o que estou fazendo. A peça não tem redenção. Não tem final feliz. Talvez isso desagrade algumas pessoas. Mas a minha esperança é que a redenção aconteça depois, quando o espectador sair do porão do CCSP com a sensação de que não quer nada daquele universo pra si.

Estou muito confiante de que isso vai acontecer.

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