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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Com a palavra, o diretor

Quando Leonardo Cortez me convidou para dirigir a Cia. dos Gansos em seu novo texto “O Rei dos Urubus”, sem titubear, aceitei o convite. Em 2005, essa parceria quase aconteceu quando da montagem de seu texto anterior, “Escombros”.

O que primeiro me fascina na dramaturgia desse novo autor de teatro brasileiro é, sem sombra de dúvida, a agilidade com que ele constrói seus diálogos. Todos os objetivos, as circunstâncias, os personagens e suas relações são pouco a pouco desenvolvidos a partir da dinâmica contundente estabelecida pelos diálogos. Da mesma forma, através dos diálogos, a acidez, a ironia e o humor, características intrínsecas desse autor ganham contornos definidos e esclarecem muito bem a visão de mundo que ele nos apresenta.

Leonardo Cortez e a Cia. dos Gansos têm a oportunidade de fazer um tipo de teatro em que o texto vai se elaborando conforme as características dos atores, de suas relações e vontades. Um autor que também é ator de seu grupo e que por conhecer tanto o lado de dentro da cena quanto o de fora, cria personagens e situações específicas para cada um de seus atores parceiros de grupo e também para ele mesmo, é importante dizer. Isso claramente potencializa o trabalho do ator e a dinâmica do grupo que, a cada trabalho, encontra território dramatúrgico específico para colocar em cena suas vontades e questionamentos.

Impossível não estabelecer pontos de contato com alguns autores que na história do teatro também faziam parte como atores de coletivos e que criavam seus textos dessa maneira, tais como: Eduardo de Fillipo, Dario Fo, Moliére, e até mesmo Shakespeare, para citar apenas alguns dos mais importantes. Exemplos que se tenazmente forem seguidos pela Cia. dos Gansos podem nos render ótimos frutos.

Assim, o trabalho da direção, ao se deparar com tal material criativo, encontra um terreno fértil para lançar suas idéias a respeito da construção estética da cena. Encontra texto e atores que querem estabelecer um diálogo sem ruído com seus espectadores. Pois se trata de um teatro urgente, feito hoje para os dias de hoje. Um teatro atual que potencializa o aqui e agora da cena, sem se preocupar com a posteridade e sem embalar uma nostalgia do passado.

Quisemos fazer de “O Rei dos Urubus” um espetáculo franco, direto e sem meias palavras. As linhas desenhadas no espaço cênico pelos atores são o anteparo abstrato para que a concretude da relação palco-platéia se estabeleça plenamente.

Marcelo Lazzaratto

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