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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O público

Termina o espetáculo e a gente levanta para bater palmas. Não importa se a gente gostou ou não daquilo tudo. As palmas marcam o final da peça e pronto. Bateu palma, pode ir embora.

Por isso quando eu estou numa peça não vejo as palmas como indicativo de que a platéia gostou do que fizemos. Eu olho uma outra coisa: a sensação de maravilhamento. As pessoas demoram a sair do teatro. Ficam olhando para o palco, esperando que a gente apareça. Querendo entender como foi que aquilo tudo aconteceu.

Nós atores, quando vamos assistir a outros atores, subimos no palco depois da peça, entramos nos bastidores, vamos ao camarim e abraçamos o outro. Profanamos esse espaço sagrado, mas parece que temos alguma autoridade para isso.

Gente que não é de teatro não sobe no palco.

Parece que tem algum tipo de mágica ali.

Quando a mágica funciona, a gente fica olhando para o lugar onde ela aconteceu tentando entender qual o segredo daquilo tudo.

Isso é que é bonito.

Podeir e a promoção da peça

Com a pesquisa que fizemos notei que muitas pessoas tinham vindo através do site Podeir e do site da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo. Entrei em contato com ambos os sites e ofereci um par de convites para a equipe de redação.

Hoje cedo me ligou a Jullia Rebello, do site Podeir. Ela me disse que toda a equipe de redação do site fica em Brasília e que ela era a responsável por São Paulo. Perguntou se não podíamos armar uma promoção com os usuários do site em que os dois convites fossem sorteados para pessoas que residem em Sampa e que gostariam de assistir à peça.

Bacana! Pediu que eu mandasse o Flyer que o Zé fez e eu ofereci o trailler do Youtube. Ela fez um Post bem bacana lá, com essas novas informações.

Bem, estamos lançando a promoção através do site e aguardamos esses dois convidados!

Faça você mesmo

A gente ficou bem incomodado com a possibilidade de as "duas estrelas" do Dirceu complicarem a nossa vida. Mas passadas essas duas semanas, vimos que a coisa não foi bem assim. De qualquer maneira, isso me incomodou o suficiente para pensar no porquê estávamos sujeitando a visibilidade do nosso trabalho a qualquer outro veículo que não fosse o nosso trabalho.

Explico: as outras duas peças do Léo foram muito bem de público no Centro Cultural São Paulo. Além disso, "Escombros" está indo para o terceiro ano de apresentações e sempre temos uma relação bacana com os nossos espectadores. A questão é que não sabemos quem são os nossos espectadores.

Nunca fizemos uma lista deles. Não temos os seus e-mails, telefones, endereços. Não sabemos como encontrar os nossos "clientes". Coisa de gente que não sabe pensar em negócios!

Foi então que eu resolvi que ia fazer alguma coisa a respeito e comecei a pensar numa pesquisa que os nossos espectadores pudessem responder logo em seguida ao espetáculo. Através dela teríamos um mailing com todas as pessoas que gostam do nosso trabalho e que ficariam bem felizes se a gente avisasse quando e onde estaríamos em cartaz.

Comecei essa coisa toda na semana retrasada. O mailing estava todo numa folha só (numa folha haviam seis pesquisas) e com a impressão bem pequena, para economizar papel (hahaha). No primeiro dia, deixamos no Porão e ninguém viu que era para responder. No segundo, recortamos as pesquisas e pedimos ao bilheteiro que entregasse junto com o programa. De novo as pessoas não viram onde estava a urna e levaram a pesquisa no bolso.

Nesse final de semana eu consegui consertar os erros todos e fizemos as pesquisas bem vistosas e cada uma era entregue junto com o programa da peça. Eureka! Conseguimos armar o mailing! Nesse final de semana tivemos 125 pessoas na sexta (era o dia de R$ 1,90), 85 no sábado e 70 no domingo. Duzentos e oitenta expectadores! O mailing só começou a funcionar mesmo a partir de sábado, então dos 155 espectadores tivemos 30 respostas.

Começamos com 20% de aproveitamento.

Então fui conferir para ver de onde vinham as pessoas e que surpresa! Dois vieram pela Vejinha. Treze vieram através da Internet e oito através de amigos que já tinham assistido ao espetáculo.

É provável que o público da Vejinha não esteja vindo assistir ao nosso espetáculo, mas isso não significou queda de público. Mas o interessante foi constatar esses dois tipos de público: a galera que pesquisa na Internet e o pessoal que vem através do boca a boca. Quem vem pela Internet ou se interessa pelo tema da peça ou conhece os outros trabalhos da Companhia. Quem vem pelo boca a boca são pessoas que ouviram falar bem do nosso trabalho e indicaram a outros.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Com a palavra, o diretor

Quando Leonardo Cortez me convidou para dirigir a Cia. dos Gansos em seu novo texto “O Rei dos Urubus”, sem titubear, aceitei o convite. Em 2005, essa parceria quase aconteceu quando da montagem de seu texto anterior, “Escombros”.

O que primeiro me fascina na dramaturgia desse novo autor de teatro brasileiro é, sem sombra de dúvida, a agilidade com que ele constrói seus diálogos. Todos os objetivos, as circunstâncias, os personagens e suas relações são pouco a pouco desenvolvidos a partir da dinâmica contundente estabelecida pelos diálogos. Da mesma forma, através dos diálogos, a acidez, a ironia e o humor, características intrínsecas desse autor ganham contornos definidos e esclarecem muito bem a visão de mundo que ele nos apresenta.

Leonardo Cortez e a Cia. dos Gansos têm a oportunidade de fazer um tipo de teatro em que o texto vai se elaborando conforme as características dos atores, de suas relações e vontades. Um autor que também é ator de seu grupo e que por conhecer tanto o lado de dentro da cena quanto o de fora, cria personagens e situações específicas para cada um de seus atores parceiros de grupo e também para ele mesmo, é importante dizer. Isso claramente potencializa o trabalho do ator e a dinâmica do grupo que, a cada trabalho, encontra território dramatúrgico específico para colocar em cena suas vontades e questionamentos.

Impossível não estabelecer pontos de contato com alguns autores que na história do teatro também faziam parte como atores de coletivos e que criavam seus textos dessa maneira, tais como: Eduardo de Fillipo, Dario Fo, Moliére, e até mesmo Shakespeare, para citar apenas alguns dos mais importantes. Exemplos que se tenazmente forem seguidos pela Cia. dos Gansos podem nos render ótimos frutos.

Assim, o trabalho da direção, ao se deparar com tal material criativo, encontra um terreno fértil para lançar suas idéias a respeito da construção estética da cena. Encontra texto e atores que querem estabelecer um diálogo sem ruído com seus espectadores. Pois se trata de um teatro urgente, feito hoje para os dias de hoje. Um teatro atual que potencializa o aqui e agora da cena, sem se preocupar com a posteridade e sem embalar uma nostalgia do passado.

Quisemos fazer de “O Rei dos Urubus” um espetáculo franco, direto e sem meias palavras. As linhas desenhadas no espaço cênico pelos atores são o anteparo abstrato para que a concretude da relação palco-platéia se estabeleça plenamente.

Marcelo Lazzaratto

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Escrito na véspera

Publiquei esse texto no Diário do Ganso, um dia antes da peça estrear. Reproduzo o texto aqui, a convite do Djair. Aos poucos vou colocando outras coisas que já escrevi a respeito da Cia dos Gansos. Inclusive a nossa biografia completa. Aguardem.

Léo Cortez

Rei dos Urubus, na véspera
Minha nova peça é um pouporri das minhas angústias. Tá tudo lá, meu amigo: a agonia diante do mundo opressor coorporativo, a solidão do lider, o desamparo da juventude, a crise diante do humor vazio e vaidoso, a minha birra contra quem faz documentário oportunista e etc. Tá tudo lá. De novo, sem floreio, com aquela verborragia de sempre, sem muita poesia que eu não levo jeito pra coisa. Mas tudo muito pensado, muito analizado, muito discutido comigo mesmo. Uma jornalista assistiu o ensaio e disse que as reuniões de pauta não são como as reuniões retratadas na peça, que a televisão não é daquele jeito e que as pessoas não são assim. Pois eu digo: o meu esforço como dramaturgo é transcender a vida real, buscando, nesse amontoado de situações-limite, conseguir retratar o sofrimento humano de maneira quase alegórica e pretensamente atemporal. Não se trata de uma peça sobre a televisão, ou sobre a baixaria da televisão. É uma peça sobre o ser humano desesperado, escravo das suas fraquezas, submetido a uma estrura de trabalho desumana, que prioriza o lucro e a produtividade em detrimento das relações e dos valores morais e éticos. E pretendi falar sobre tudo isso com humor, porque o humor é decorrencia tragicômica da mesquinharia que cerca e rege o comportamento desses personagens. Estamos em vésperas de estréia. Ensaiamos com muita raça e responsabilidade. Temos , dentro do grupo, esse discurso comum, conquistado após muita reflexão sobre o trabalho. Eu posso dizer categoricamente , que é um trabalho honesto. Eu posso dizer, categoricamente, que sei o que estou fazendo. A peça não tem redenção. Não tem final feliz. Talvez isso desagrade algumas pessoas. Mas a minha esperança é que a redenção aconteça depois, quando o espectador sair do porão do CCSP com a sensação de que não quer nada daquele universo pra si.

Estou muito confiante de que isso vai acontecer.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Crítica: Dramaturgia nota dez

Maria Lúcia Candeias, especial para o Aplauso Brasil

SÃO PAULO - Quem gosta de uma peça bem escrita, com personagens bem traçados e uma ótima história, não deve perder O Rei dos Urubus. Está em cartaz no Centro Cultural, no porão, Espaço Cênico Ademar Guerra. É tão bom que a gente nem se lembra que os assentos são alternativos. Mesmo assim, o texto de Leonardo Cortez mereceria espaço mais requintado.

Trata-se de crítica aos meios de comunicação e seus telespectadores, ou seja, de nós todos. Tudo feito com extrema sensibilidade, inteligência e humor. Além das qualidades literárias cabe ressaltar o teatro propriamente dito, que apresenta direção impecável de Marcelo Lazzaratto.

Tudo é bom: atores (Daniel Dottori, Gláucia Libertini, Guilherme Jorge, Djair Guilherme e o próprio autor) estão excelentes. O mesmo pode ser dito da cenografia simples, adequada e de muito bom gosto (do ator Djair). Os figurinos masculinos de Daniel Infantini caem lindamente. A trilha de Gabriel Miziara também foi escolhida em harmonia com tudo o mais. A iluminação leva a assinatura de Wagner Freire o que é garantia de qualidade.

Os únicos senões ficam por conta do traje da atriz, muito discutível, afinal só ela está deselegante, e do nome da montagem. Como já disse, trata-se de uma crítica a todos nós, mas eu, particularmente, não me sinto e nem identifico os outros como urubus. Será que Leonardo se referia apenas aos donos de emissoras e jornais?

Não percam, até o momento, me parece o melhor espetáculo do ano.

O Rei dos Urubus
Onde: Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1000 – ao lado do metrô Vergueiro)
Quando: Sexta às 21h30, sábado às 21h domingo às 20h
Quanto: R$7,50 a R$15,00
Informações:(11)3277-3611

Vinheta do espetáculo "O rei dos urubus"

"O rei dos urubus"

"O rei dos urubus", de Leonardo Cortez
direção de Marcelo Lazzaratto

Com:
Daniel Dottori
Djair Guilherme
Glaucia Libertini
Guilherme Jorge
Leonardo Cortez

Uma produção NucleoBase Produções.

Sextas às 21:30hs, Sábados às 21hs e Domingos às 20hs.
Centro Cultural São Paulo, Espaço Cênico Ademar Guerra
R. Vergueiro, 1000

Ingressos: R$ 15,00 e meia R$ 7,50

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Repercussão

Comprei a Veja no sábado pra ver o que o crítico da Vejinha havia escrito sobre a minha peça. Ok, isso aqui vai parecer discurso de ressentido, porque o cara me deu duas estrelas. De qualquer maneira, vou me colocar dizendo o seguinte: não acho que o meu texto é construído em cima de esteriótipos e nem acho que o elenco é irregular, conforme tava escrito. Pra mim, isso são duas grandes bobagens, então, desculpa falar, eu não posso levar muito à sério a opinião da Vejinha.

Ninguém precisa gostar da minha peça. Tenho certeza que é um texto que desperta amor e ódio dependendo de quem assiste e tudo bem, a vida é assim. A categoria dos jornalistas pode se sentir ofendida e talvez tenha sido esse o caso do crítico. Mas a peça não fala somente de jornalistas ou do mundo da televisão. É um texto sobre a opressão do mundo coorporativo, que sufoca o indivíduo em nome das metas e da produtividade. Eu sei do que estou falando, meu amigo: tô no olho do furacão como todo mundo que tem que pagar as contas. Escrevi "O Rei dos Urubus" porque pra mim é absolutamente necessário extravazar essa minha indignação incontida, procurando sempre ser muito honesto comigo mesmo em cada linha da minha dramaturgia. E acho um pouco chato ter que aceitar quietinho um argumento como "elenco irregular", mesmo porque acredito piamente que uma das grandes virtudes da montagem é o nosso trabalho de interpretação.

Talvez a avaliação da Vejinha atrapalhe um pouco a trajetória comercial da peça, já que pode criar uma certa resistência em quem consulta o guia. Paciência. Não vai ser por isso que a gente vai deixar de fazer o teatro que a gente acredita. E não vai ser por isso que a gente vai deixar de fazer a peça com a mesma paixão.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Duas estrelas na VEJA - tsc!

Por Dirceu Alves Jr.

O REI DOS URUBUS, de Leonardo Cortez. Os bastidores de um programa de televisão são representados na tragicomédia da Cia. dos Gansos. Um apresentador, sua amante, responsável pelas atrações femininas, e um roteirista entram em conflito com a chegada de um jornalista recém-formado. Apesar de estar calcado em estereótipos, o texto não deixa de ser interessante. Faz uma crítica oportuna à mídia e às ambições dos profissionais da área. A irregularidade do elenco, porém, esvazia as boas idéias do autor Leonardo Cortez e do diretor Marcelo Lazzaratto.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Lavando roupa suja em público, ao vivo e em cores

O Rei dos Urubus retrata os bastidores de um programa de baixaria na TV

Beth Néspoli

Os integrantes da companhia teatral os Gansos convidaram Marcelo Lazzaratto para dirigir sua terceira criação, o espetáculo O Rei dos Urubus, que estréia hoje no Centro Cultural São Paulo. Quem viu, conhece o trabalho da trupe por meio dos espetáculos como O Crápula Redimido e Escombros.

Desta vez, o texto de Leonardo Cortez, que também atua junto com Djair Guilherme, Glaucia Libertini, Daniel Dottori e Guilherme Jorge trata de um tema difícil de ser abordado com a necessária contundência crítica: os bastidores de um programa de TV sensacionalista.

"É um risco que o autor assume e busca fugir dele exatamente não tendo o pudor de mergulhar fundo na degradação dos personagens", diz Lazzaratto. Ele elogia sobretudo a agilidade dos diálogos. ''A estrutura dramatúrgica da peça é vibrante, os diálogos bem encadeados, Leonardo tem talento para criar circunstância a partir do jogo de palavras, ele tem traquejo nesse aspecto.''

Mais do que mostrar em cena a exploração da ignorância e da miséria, comum nesses programas no estilo "mundo-cão", o autor põe em cena os jornalistas que os criam. "Mais que a televisão, a mim interessa falar de relações humanas, da falência de valores, da disputa no mundo corporativo que pode ser em qualquer empresa", diz Cortez.

Segundo ele, a peça tem até um tom futurista. "Não é o retrato fiel de uma redação de TV, mas se as coisas não mudarem vamos acabar assim, em disputas estúpidas, com conseqüências graves."

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Texto do programa

O que eu lembro é que quando a gente fez a primeira leitura na casa do Gui eu estava num poço de apreensão, naquela expectativa e esperança de que o meu entusiasmo com a peça contagiasse todo mundo. E de novo, o amparo e as sugestões dos velhos e bons amigos foram fundamentais no aprimoramento de um texto que pretende comunicar as aflições e questionamentos deste que vos escreve e daqueles que estarão em cena daqui a pouco.

Só chegamos aqui porque cada um contribuiu com o seu melhor para erguer uma obra que deixou de ser só minha desde que a gente fez aquela leitura. Aos atores-amigos, fica aqui o registro de cada emoção represada ao ver que os meus personagens estão vivos por causa de vocês. Ao Marcelo Lazzarato, que antes mesmo de aceitar ser o diretor dessa montagem foi um grande incentivador da minha trajetória como dramaturgo, mais uma vez a minha gratidão, inclusive pela amizade. À Glaucia, porque ela é simplesmente fundamental na minha vida, ao Zé Roberto, pela lucidez e talento, ao Vitão e à Ju, por toda a labuta e por gerenciarem as nossas incompetências administrativas, enfim, a todos vocês, o meu muito obrigadíssimo, de novo.

Curiosa coincidência: somos na maioria, todos jovens pais nessa equipe e temos em comum esse exercício diário de mostrar pros nossos filhos que é bom à beça estar por aqui. Principalmente quando estamos em boa companhia, fazendo o que a gente acha que é certo.

Leonardo Cortez

O dia em que o Zé salvou o cenário

Na minha imaginação, o Vitor ia conversar com uma empresa que faz banners e pedir a eles que nos dessem o apoio de oito banners de vinil. Um seria o do espetáculo. Os outros sete seriam com a padronagem que eu definisse para o fundo da cena.

A década de 70 tem umas coisas ducaralho! No site da Stockphoto eu encontrei uns padrões muito bacanas, que poderiam ser colocados num banner de lona vinílica recortada.

Além disso, descobri uma ilustração muito bacana do Norman Rockwell, que acabei não usando para nada, mas que para mim tinha muito a ver com o espírito da peça. Trata-se da "Fofoca" - (Gossip no original). Olha só que duca!

Eu pensava em criar algo que aglutinasse essas duas coisas. Mas o tempo foi passando e eu não conseguia resolver o Cândido em cena. O Vitão não tinha nenhuma resposta sobre o banner. E o nosso dinheiro só ia dar para fazer a caixa.

Pedi ajuda da Laura Reis, que já tinha me dado uma força com a cenografia de "Frio 36 e meio", do Arthur Belloni. Ela me mandou uns estudos, mas não era o que eu estava pensando. Se não rolasse a lona vinílica a gente teria que fazer stencil do padrão ou então fazer uma "operação 25 de março" para caçar algum tecido com padronagem interessante para a peça. Tudo isso em menos de um mês. Eu tava bem fudido!

Com o final do prazo para os apoios, me vi num mato sem cachorro até que o Zé Roberto mandou o e-mail com a arte para o cartaz da peça.

"É isso! Genial! É esse o padrão geométrico mais simples e mais significativo que eu preciso para a peça". Mandei um e-mail geral pedindo a aprovação do Lazzaratto e o cara achou que era isso mesmo.

"Ufa!". Depois de umas broncas do Vitão dizendo que eu não tinha que ficar pensando na grana que a gente ia gastar e sim que eu teria que resolver o cenário, chamei a galera num ensaio e perguntei se a gente poderia gastar um pouco a mais do que o que tinha sido previsto.

"Quanto?", perguntou o Gui com seu senso prático. "Uns R$ 500", respondi no chute. "Então tá bom, Jabá. Assim você resolve isso logo", arrematou a Glau.

Essas barras de calibragem servem para que a gente ajuste aquilo que estamos recebendo na nossa TV. A partir delas se ajusta BRILHO, CONTRASTE, SATURAÇÃO, NITIDEZ, CROMINÂNCIA, etc... Serve como um elemento comparativo. Acho que a peça serve para isso também. Para que a gente veja até onde pode ir a canalhice nesse jogo corporativo.

Imprensa é mais que isso, com toda certeza! O problema é que chegamos num ponto onde se acha que a imprensa é só isso: exploração da desgraça alheia.

Temos que recalibrar nosso conceito de imprensa com novas atitudes.

E digo mais: chegamos num ponto onde vender a sua força vital a troco de merda é o lugar comum. Vale tudo, desde que se pague bem...

Isso não tem que ser verdade.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cenário - O nascimento da mesa poltrona


A gente ainda estava lendo o texto com o Lazzaratto quando eu falei com o Léo que eu queria fazer o cenário. Ele não me falou nada, mas eu acho que ele ficou meio desconfiado que eu não soubesse nem por onde começar.

O Léo tinha razão nisso (se é que ele pensou isso). Eu não sabia mesmo!

Eu gostei da idéia de fazer algo inspirado na década de 70 e mesmo antes de a gente decidir se seria eu o cenógrafo, comecei a pesquisar o design da época, atrás de objetos que pudessem compor o estúdio de TV onde os personagens fazem o "Programa de Família". Achei umas coisas bem, bacanas na web e numa outra postagem eu compartilho com vocês essas fontes.

No primeiro ensaio no Espaço da Cia Elevador de Teatro Panorâmico o Lazzaratto tirou todas as cadeiras da cena da reunião. Ficou o palco vazio e aquela mesa no meio de tudo. Depois ele lançou a idéia de que a gente deveria se mover pelo espaço em linhas diagonais. Eu estava de fora da primeira cena e então comecei a rabiscar umas coisas, tentando entender visualmente o que ele estava propondo. No final do trabalho, o que eu comecei a enxergar era uma arena. Um ringue.

Quando o Lazzaratto optou por tirar as cadeiras, fiquei com a impressão mais forte de que aquela reunião estava por um fio. De que os caras não conseguiam se portar como uma reunião de pauta pede. E que isso era uma das razões pelas quais o programa estava indo para o brejo. Eles estavam lutando entre si, desesperados por uma solução.

No dia seguinte, marcamos a cena do Dorival Toledo e aí havia a clara necessidade de uma cadeira. O assento colocava o personagem numa situação de falso-conforto. O bicho ficava ali, acuado naquele objeto que "pedia" para que ele permanecesse ali. Eu ainda não tinha decorado a cena do Cândido, mas sabia que o copeiro também ficaria sentado naquele mesmo lugar. No final desse ensaio, eu e o Lazzaratto começamos a pensar que esse objeto central tinha que ser algo que num momento fosse mesa e depois virasse um assento.

Quem já viu outros cenários meus sabe que eu gosto muito de máquinas e que também penso em como a gente vai carregar as coisas todas quando precisar viajar. Também odeio gastar dinheiro e prefiro resolver as coisas de um jeito que todas essas variantes sejam contempladas. A idéia de um objeto só que tivesse duas (ou mais) funções me agradava muito, principalmente por causa disso.

Comecei a desenhar a mesa-poltrona, pensando primeiro a articulação que permitiria que o objeto fosse as duas coisas. Tentei alguma coisa vazada, menos sólida. Mas não gostei das soluções (se eu ainda tiver, coloco os esboços aqui mais tarde). Foi então que tive a idéia desse cubo com arestas arredondadas e me lembrei de uma guardanapeira que eu vi em algum lugar.

Mandei o desenho para o Vitão, da Núcleo Base, e pedi que ele orçasse a coisa toda com algum marceneiro.

Aí começou o sofrimento...

A verba que tínhamos previsto era de R$ 1.000 para o cenário inteiro. Recebemos orçamentos de R$ 3.000, R$ 2.400, R$ 1.200... E então chegamos no Matheus, que faria a coisa toda por R$ 1.000.

Mas isso era só a caixa...