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quinta-feira, 7 de maio de 2009

Reflexão: A promiscuidade nossa de cada dia

A Companhia dos Gansos (http://ciadosgansos.blogspot.com/) está apresentando, em diversas cidades do interior de SP, no projeto Viagem Teatral do SESI, a peça O Rei dos Urubus. Escrita por Leonardo Cortez e dirigida por Marcelo Lazzaratto, esta tragicomédia, como é chamada pelos atores, possibilita importantes reflexões a respeito do nosso mundo contemporâneo e das relações que nele vivemos.

A peça enfoca os bastidores de uma emissora de TV, responsável por programas sensacionalistas, nos quais o único valor cultivado é o índice de audiência, que determina o investimento dos anunciantes na emissora. As relações entre os profissionais de mídia, na peça como provavelmente na vida, são totalmente pautadas pela competição, pela vaidade, pela hipocrisia e pela ausência absoluta de ética. Os fatos que se transformam em programas de TV, abordando celebridades e destruindo seres humanos, são criações fictícias narradas a partir de acontecimentos reais. Lembramos, então, do seqüestro e assassinato de Eloá, em outubro/2008, tragédia que a mídia não somente registrou, mas, quem sabe, ajudou a patrocinar.

A discussão sobre o papel da imprensa ou, mais exatamente, da mídia televisiva no Brasil, é algo sempre necessário e urgente, visto que, sem perceber, vamos consumindo e aprendendo a desejar os produtos, as idéias e as emoções que nos são vendidas através das propagandas e dos programas. Pergunto-me, neste momento, até que ponto e em que nível a promiscuidade das relações entre os políticos ou entre os profissionais da mídia - ambos nos chamam mais a atenção -, refletem, de alguma forma, a “promiscuidade nossa de cada dia”.  

Será que também olhamos e interagimos com o mundo a partir da lógica perversa na qual estamos inseridos? Por exemplo, em geral as pessoas vão mais ao teatro quando há uma celebridade no palco; em geral, as pessoas que gostam de livros compram os livros que são mais lidos e divulgados, classificados naquelas listinhas publicadas nos jornais de domingo; em geral, as pessoas criticam muito a televisão, mas não ficam um só dia sem ela. E se eu continuar generalizando as situações e as pessoas, com certeza serei vítima e vilã do mesmo olhar capitalista que estou questionando.

Entendo que o questionamento pode se constituir num exercício diário, contínuo e prazeroso, aberto e compartilhado, buscando criar certa resistência ao senso comum, dominado pelos números, pela quantidade, pelas medidas e pelo lucro a todo custo.

Os efeitos nefastos dessa ótica de vida são diversos, dentre eles o adoecimento físico e mental, regulado pela necessidade que temos de atender às demandas dos “superlativos”: temos que ser “o melhor dos melhores”, de preferência em tudo; precisamos aprender a “superar nossos limites”; cobramos de nossos filhos que sejam  alunos “Nota 10”; procuramos meninos que “brilhem” no futebol; ensinamos às meninas que a “beleza é tudo”, elogiando-as quando desfilam e usam saltos, apenas com 3 anos de idade...

Alguém poderia me interpelar, afirmando que não há problema algum nessas “crenças” - ou imperativos sociais. Convido a todos para que se perguntem: será que não há mesmo? Será que esses valores não estão “naturalizados” em demasia, possibilitando que sejamos passivos? Qual o preço que estamos pagando por cultivá-los em nossas vidas e em nossas relações?

 

 Andrea R. Martins Corrêa

4 comentários:

LizianeRafaela disse...

Infelizmente para se viver de teatro nesse país , além de muita dedicação, é necessaria muita sorte. Sem dúvida , que se uma celebridade instantânea televisiva subisse num palco e falasse qualquer coisa , sem talento algum, atrairia uma massa de admiradores.Os verdadeiros talentos estão a luta de um espaço na mídia , não por um mar de dinheiro, e sim pra mostrar um pouco do que mais ama fazer.a maioria das pessoas não procuram escolher uma peça de teatro por se identificar com ela,ou procurando algo que ela possa acresentar em sua cultura.As pessoas vão pelo nível de conhecimento do artista , ou vão se quem escreveu o texto é um ba-bam-bam com muitas notas no bolso.Claro que nem todos artistas renomados ,sejam sem-talento, o problema não é o artista e sim nós quem damos créditos a ele, que sem dúvida quem mesmo sem vocação alguma vai sem o novo galã da novela das oito.Pensamento e ações,tudo fruto de um ensinamento passado de gerações.

Claro que esse texto não cabe à vocês !

parabéns cia dos gansos
e continuem na luta...

Edgard Machado disse...

Olá. Assisti a peça na Cidade de Itapetininga. Achei fantástica! Todos são ótimos! Abraços! (Merda!)

Karen B. disse...

Assisti a peça em Birigui e simplesmente me encantei *-*
Vcs são demais!
Parabéns
BJOS

AHH, e voltem sempre, por favor!!!

Unknown disse...

Olá pessoal
Gostaria de postar meu e-mail no artigo que escrevi sobre a peça, caso queiram trocar idéias.

andrea-raquel@bol.com.br
http://recriandovinculos.blogspot.com/

Andrea Raquel Martins Corrêa